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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Vinte e três.


O despertador tocou. Ainda com os olhos fechados senti um calafrio e a data que esse dia representava me veio a mente, como uma pedra caindo no abismo. Rápida e doloridamente. Voltei a dormir.


Esse dia não iria existir.

Mas tive que levantar, fazer esse dia existir. Levantei, me vesti e sai. Enquanto passava pelas janelas das casas daquela ruazinha deserta vi meu reflexo. Era a mesma roupa. Me odiei por segundos, eu queria bloquear qualquer lembrança daquele dia, e usar a mesma roupa não ajudava muito; aumentei o som dos fones de ouvidos. Ensurdecer minha memória, essa era a meta.

Ninguém lembrava. Ainda bem. Estavam todos preocupados com o final do ano, provas e física. E eu estava tentando entrar nessas preocupações banais e tirar minha vida pessoal da cabeça.

Cinco e cinquenta da tarde. Ônibus esperando. Falta de trânsito. Farol fechado. Corrida. Sorte. Boa tarde motorista. Ainda tem lugar do outro lado da roleta. Ele está do outro lado...ele está do outro lado. Fiquei paralisada, sem pensar nada pela primeira vez, um olhar perdido - ou desesperado. Um passo à frente, vamos Fernanda, ande!. Conversas, sorrisos, adeus, fim.


O dia era vinte e três. E fazia um mês.