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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Querer te ter só mais uma vez.


"Você está me olhando
E eu aqui pensando 
Que amanhã é certo
A gente se arrepender"

- Só mais dez minutos, você já está atrasada mesmo - Lucas estava quase caindo de sono, mas ela o conhecia e ele não iria embora da festa tão rápido.
- Mas você promete me levar pra casa depois? Não quero pegar ônibus a essa hora. 
- Bia, você sabe que eu sempre vou te levar pra casa, sempre vou fazer tudo que você pedir. - Lucas a abraçou pela cintura, sua boca foi de encontro à boca de Bia, mas ela desviou e o beijou foi no pescoço.
Ela se esquivou dos braços fortes e conhecidos de Lucas, empurrou seu peito, aquele em que tantas vezes chorara, e começou a sair. Ele a segurou pelo braço, uma lembrança lhe veio a mente.

Ele agarrara seu braço, ela parou e olhou pra ele
- Me larga Lucas, eu quero ir embora.
- Você não pode simplesmente ir embora! Acabou de dizer que o namoro está terminado e agora quer ir embora? Não, você vai me explicar...o que eu fiz de errado desta vez?
Desta vez...quantas vezes essa cena já se repetira? Ah, sim, três. Mas desta vez o problema não era com ele, ela só não aguentava mais discutir sobre coisas tolas, coisas que transformavam a relação numa bola de neve que Lucas fingia não ver.
- Bia, deixa eu tentar consertar, eu não quero perder você.

Três anos se passaram desde aquele "rompimento" e eles viviam naquele relacionamento sanfona. Os amigos nunca sabiam quando estavam juntos ou não.
Ela virou-se pra encarar aqueles olhos negros como ônix, que a conheciam tão bem, por mais que quisesse negar isso.
- Bia, não faz isso comigo. Você sabe que eu não faço essas coisas por mal. Eu te amo. Amo, você sabe como é assustador constatar isso?
- Você demorou cinco anos pra descobrir isso?
- Não, demorei cinco pra ter a coragem de admitir.
Ela não resistiu, também amava aquele idiota que sempre sabia a hora certa de falar alguma coisa. Ele se aproximou, ela o abraçou. Eles estavam juntos. Novamente.

"Por que a nossa história nunca tem um fim?"

domingo, 18 de abril de 2010

Faz sentido. ela sabe.


O telefone começa a tocar, alguns curiosos ao redor olham pra tentar descobrir quem toca aquele som tão praia, ninguém parece reconhecer, mas assim é a Cris, gosta do que ninguém conhece. Ela atende e a voz dele sai, aquela voz que ela reconhece em qualquer lugar, não importa quão ruim seja o sinal.
Ele diz que precisa vê-la naquele momento, e eles combinam de se encontrar na sorveteria perto da casa dela, aquela verde que até umas semanas atrás era laranja.

Enquanto caminha, percebe tudo o que está pra acontecer, desvenda tudo o que será dito quando encontrar com o Bruno, sabe que o conto de fadas está no final, se bem, na verdade, nunca foi um conto de fadas. Mas não importa do que ela rotule, isso em breve acabará.
Quando chega na sorveteria o vê sentado na mesa 3, a mesa deles, ela tira o anel do dedo, coloca na mesa e diz:
- Assim é mais fácil, ninguém vai sofrer.
Ela vira pra voltar pra casa, dá uma ultima olhada pra trás e vê que o menino dos seus sonhos está guardando a aliança no bolso, pagando o sorvete e saindo, pra direção oposta.

Sempre a direção oposta, por isso que ela sabe que fez a coisa certa.

Ela não consegue gostar de ninguém, ela é um desastre natural, está sozinha, mas está feliz. Ninguém consegue entendê-la, mas ela sabe que tudo faz sentido, e ele também.

domingo, 11 de abril de 2010

I'm absolutely fine


O sol dança por entre as folhas dos velhos carvalhos, as sombras dançam sobre mim, enquanto fico deitada na grama, ouvindo os pássaros cantarem, se meu avô estivesse do meu lado ele me diria de qual espécie é esse que insiste em ficar me rodeando, entortando a cabeçinha pro lado como se quisesse saber se estou viva ou não, já que já faz uns minutos que não me movo.

Tenho vontade de dizer que também não sei se ainda vivo ou não. Na verdade eu sei a resposta, claro que sei, estou muito viva, mais do que nuca. Mas por que esta melancolia de repente? Por que eu senti necessidade de correr pra esse lugar intocado? Por que precisei da solidão pra ficar em paz? Esses questionamentos não me fazem afirmar minha existência.

Sei que é uma tristeza passageira, sei que ninguém reparará nela, pois eu a esconderei muito bem, melhor que ninguém saiba do que todos questionem, eles não serão tão simpáticos quanto o pequeno pássaro, que eu tenho quase certeza ser um João de Barro.

Eu me levanto, o vento levanta meu cachecol, mas ele não vai muito longe, pois o meu pequeno amigo voa e pousa sobre ele. Eu agradeço, não estou louca ainda, mas sou simpática com que também é. Deixo o cachecol com o pássaro, quem sabe ele leve para seu ninho e use para se aquecer nas noites de inverno que estão pra começar. Deixem me acreditar nisso.

Assim que chegar em casa vou ligar pro meu avô e descrever meu pequeno novo amigo.

domingo, 4 de abril de 2010

Acredite.


Ela tirou o sapato caro de salto, sem eles era bem mais fácil correr. Levantou a barra do vestido longo, isso também facilitava. Corria sem rumo, sem nada na mente, apenas com os sapatos numa mão, a barra do vestido na outra e lágrimas caindo junto com seu rímel pelo rosto, borrando o resto da maquiagem. O penteado se desfazia enquanto o vento úmido do começo da madrugada batia em seu rosto.

Quando olhou em volta estava na praia, seus pés estavam se afundando na areia e a água refletia a luz da lua. O silêncio e a solidão a dominaram de um modo que, pela primeira vez naquele dia, a fez sentir-se bem. Começou a caminhar com os pés ora afundando na areia molhada, ora sendo lavados pelas águas salgadas e oceânicas.
Foi quando percebeu que não estava sozinha, um homem jovem caminhava ao seu lado, com o terno pendurado em um só ombro e com o nó da gravata desfeito. Ela não se importou, ele também não, continuaram caminhando, lado a lado, sem dizer uma só palavra. Ele parou e sentou-se, ela repetiu o movimento...não sabia explicar, mas algo os unia.

As horas passaram, correram ou se arrastaram, e eles se conheceram, conversaram e viram o sol nascer. 
Faziam um belo casal, os dois com roupas de festa, sem sapatos, abraçados, admirando o nascer do sol.
Ele levantou-se,a  realidade o estava chamando.
- Nunca mais vamos nos ver... - ela disse.
- Claro que vamos.
- Não vamos não, hoje a tarde estou voltando pra capital.
- Mas isso não significa nada. Não acredita na vida? Ela nos uniu, mesmo que por algumas horas. Acredite e ela nos unirá novamente.

Ele se agachou, a beijou e foi embora.
Ela ficou com o que ele disse na mente. E seu relógio no pulso.Desligou-o. Quando eles se reencontrassem ela devolveria, e nele estaria marcada a hora em que se despediram pela primeira vez.

sábado, 3 de abril de 2010

Explosão.


O cheiro da bebida não a incomodava, a música alta e sem sentido lhe fazia bem. Ninguém a reconhecia, mas ela era a mesma. Na verdade, estava sendo ela mesma depois de muito tempo fingindo ser alguém diferente, uma pessoa mais séria, mais focada, mais madura. 

Enquanto dança e bebe, sente a liberdade, sente-se feliz. Quer aproveitar a vida.

O cheiro forte da bebida não a incomoda, lhe faz bem. O abraço amigo do desconhecido não lhe dá claustrofobia, lhe faz bem, ela se sente querida. Não enganada, não iludida. Querida.

A bebida, a música, o desconhecido. Tudo lhe faz bem. Ela despertou. Finalmente.