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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Helena


Corria a casa com um sorriso no rosto, com seus passinhos inseguros e rápidos. Ah! Como se divertia em andar por entre as pessoas e vê-las tão grandes à observá-la.

Felicidade é algo tão simples né? Nós que a superestimamos, mas podemos encontrá-la em qualquer lugar. Helena, por exemplo estava feliz por estar acordada até as 10 da noite. Não que ela soubesse que horas eram.
Buscamos a felicidade na satisfação pessoal, profissional e em qualquer outro quesito que considerarmos básico. Precisamos disso tudo mesmo?

Você pode não acreditar, mas tomar um grande sorvete de chocolate e sujar todo seu rosto é a felicidade mais pura que existe, mesmo que sua mãe brigue porque sujou toda a roupa de marinheira que estava usando...Helena bem sabe disso. E sabe o que ela fez? Riu. Simplesmente.

E todos ao seu redor riram também. Ela olhou pra todos com um brilho inocente no olhar e bateu palmas. Parabéns pra você.

Helena continuou a tomar o sorvete. Os outros ficaram ocupados em julgar o momento.

Os otimistas viram que ela teria uma vida inteira pela frente, pra fazer tudo que a fizesse feliz. Os pessimistas viram que ela cresceria num mundo muito pior do que o de hoje. Os realistas apenas viram a beleza de uma criança inocente, que ainda não havia sido corrompida pela maldade do mundo, tomando sorvete e rindo pra todo mundo, às 10 da noite de um domingo.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

¿Qué no daría yo por tener tu mirada?

?




Era azul, limpo, lindo. Era questinador, curioso, safado. Para completar, eram dois. Eram os tipos de olhos em que eu me afogava, perdia o ar, a cabeça, eu mesma. Pois, além de tudo, eram hipnóticos.


E, para piorar, você sabia disso, sabia do poder que tinha, e principalmente, do poder que tinha sobre mim. Você era sedutor, mas seus olhos eram ainda mais, como se fossem outro organismo. Amava você e amava seus olhos, de formas diferentes.


E você sabia disso, dizia palavras doces com seus olhos safados. E palavras safadas com seu olhar ingênuo. E assim me tinha na mão, na cama, na alma. Me tinha onde quisesse.


Meu amor por você era calmo, acolhedor, parceiro, daqueles que saem no domingo de manhã pra comer tapioca, daqueles que ligam na segunda à noite pra dizer que esqueceu um pouquinho lá em casa, mas que não importa, porque é o mesmo em nós dois.


Agora seus olhos...esses recebiam meu outro amor. Aquele insano, que te despe com o pensamento, que se entrega a qualquer momento, que persegue, grita, chora, discute, abraça, beija - ah, beija! -, e então: grita, xinga, termina, volta, se afoga. 


Seus olhos me faziam sofrer assim como você me fazia bem.


Mas, confesso, preferia o amor pelos olhos do que por você. Talvez fosse louca, ou talvez você que fosse.


Agora não existe nem a loucura dos olhos, nem a calma de você. Não me afogo mais, não me falta o ar, você não vai mais me salvar. Acabou toda a intensidade entre nós.


E, acredite, não sinto falta de você, nem do que eu era em sua companhia. Sinto falta dos seus olhos, do que eles eram pra mim e no que eles me transformavam. Com eles eu era azul, era curiosa, era safada...e por que não, sedutora?


Mas talvez você não amasse meus olhos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Faça o que eu te peço.



E doí. É como se uma faca fosse entrando lentamente dentro do meu peito e então você - o torturador - a girasse, por dentro de mim, com um sorriso malicioso, dizendo estar triturando meu coração. 


Coração? Esse a muito só bombeia o sangue mesmo. Minha mente tenta enganá-lo dizendo que está apaixonada. Sou o oposto, sou o contrário.


Minha mente que engana o coração.


Coloque a faca em minha mente, triture meu cerébro, tire todas as lembranças, todas as dúvidas. Me tire de mim. Meus problemas, minhas dúvidas, minhas tristezas, arranque-as todas. Não seja um torturador, seja meu salvador. 


E então leve meu coração inteiro, coloque numa caixa e diga: "As ultimas batidas desse coração foram pra mim, foram de gratidão. Eu fui amado". Não será digno de pena você apenas ter sido amado por aquela que você assassinou. O amor tem várias formas de aparecer. 


Tantas formas que eu deixei de acreditar em todas. 


Coloque a faca em minha mente. Me deixe ir embora desse mundo. Tem alguém muito especial pra cuidar de mim do outro lado, não se preocupe. Não guardarei ódio de você, apenas amor em forma de gratidão.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Talvez nem te queira bem.


"Ela faz cinema
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual"

Mil emoções em mil personalidades. Você nunca entenderá, sempre que olhar irá pensar "mas essa garota é uma completa confusão". A complete mess. Você nunca entenderá.

E ela nem liga pra isso, está preocupada em viver, errar, aprender com os erros, se arrepender de coisas que não deveria, fazer papel de idiota, acertar, ficar feliz com os acertos. Ela se importa com a família e com os amigos de uma maneira que nunca conseguiu se importar com o amor. Ela não sabe amar, e é com isso que se importa. Mas você? Não, ela não te nota.

Ela nota a sombra que a lua deixa na parede, enquanto senta do lado de fora de casa e escuta uma música do Chico Buarque. Sente um perfume que lhe traz uma lembrança boa, apesar de não entender a relação entre uma coisa e outra. Ela nota as coisas simples e belas, não você.

Ela está mais preocupada em notar e entender seus próprios sentimentos. Não tem tempo a perder com você, que só gostava de vê-la quando não tinha mais nada pra fazer. Talvez ela nem te queira bem, já pensou nisso? 

"Quando ela jura
Não sei por que Deus ela jura
Que tem coração"

sexta-feira, 25 de março de 2011

Sonho de valsa


De encontros e desencontros já basta eu mesma. Já basta minhas dúvidas, inseguranças e vontade de comer compulsivamente. Já basta a minha necessidade de um amor. Meus poucos momentos de sorte, minha ironia e mau humor constante. Conheço todos meus defeitos.

Quero alguém que entenda meu medo por cachorros, a perseguição das borboletas, os girassóis na parede, e que - principalmente - veja a dobra invisível do meu cabelo. Quero que para alguém meus defeitos bastem e que os dele bastem para mim.

Aquele príncipe que me compreenderá e verá qualidades em mim que ninguém mais vê, mas que veja todos meus defeitos. O príncipe (per)feito pra mim, do modo mais imperfeito possível, (imper)feito pra eu caber em seu abraço e que sua mão proteja a minha.

Quero que ele me conserte - e eu a ele - para sermos então, perfeitos. Não um para o outro, mas, juntos.

Para esse príncipe eu imploro: tire a coroa e perca toda a perfeição dos contos-de-fadas. Venha humano.

Tenho medo de sonhos bons.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Divagações sem explicações


Chuva e sol, casamento de espanhol. Sol e chuva, casamento de viuva. Canto mentalmente enquanto caminho sob a garoa bem fina e brilhante por causa do sol. Talvez a viuva esteja casando com o espanhol.

Meu óculos fica todo molhado, e começo a ver o mundo de uma forma salpicada, olhos míopes não transformam o mundo. Lembro dele dizendo que deveria usar lentes de contato - faço uma pequena nota mental: nunca usar lentes. Não me importo com a chuva, ou a vista que estou perdendo por estar com a visão embaçada, já conheço esse caminho, sei onde é seguro pisar e em quais pontos da calçada desviar.

Sem me preocupar por onde vou, pra onde vou ou por onde passo me sobra bastante espaço pra pensar em qualquer outra coisa. Estudos? Trabalho? Amor?. Nada me vem em mente e sinto a felicidade de pensar em nada. Apenas erguer o rosto pra chuva que agora cai forte e faz a roupa grudar no corpo, abrir os braços e sentir as gotas tocando em cada parte do meu corpo. Me sentir viva.

A chuva acaba. O sol continua. O que terá acontecido no casamento?

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pedro e Ana. Ana e Pedro.


A chuva caia lentamente, como se não quisesse molhar a terra, nem seus pecadores.

Pecadores. Pecados. Pedro. Raiva.

Era essa a associação que Ana fazia enquanto a chuva caia, ela queria se molhar, transformar suas lágrimas em chuva e molhar os pecados, molhar Pedro. Mas suas mãos estavam apertando o voltante, suas unhas vermelhas apertavam a própria carne e Ana sentia raiva, sentia Pedro.

Odiava a chuva, que Pedro tanto amava, que molhava a terra dos pecadores, mas não a  molhava. Maldita chuva. Maldita raiva. Maldito Pedro.
Ele fora. Ela dissera "não vá Pedro!", e ele fora. Maldito Pecado. Chuva. Pedro. Ana. Pedro e Ana. Ana e Pedro.

Ela não sabia onde Pedro estava. Ele sabia onde Ana estava. Injusto. Pecado. Maldição.

O carro estava molhado pela chuva carregada de pecados, num cruzamento daquela imensa cidade, naquela maldita esquina. A esquina da morte. A esquina da morte de Pedro.

Ana chorava, apertava o volante e esperava um sinal. Queria tomar banho de chuva. Banho de Pedro. Talvez Pedro fosse a chuva, aquelas gotas. Talvez isso fosse um sinal. Ana fechou os olhos e viu Pedro a olhando com cara de domingo de manhã. Com olhos de domingo de manhã. Olhos sonolentos e apaixonados. Olhos Pedro. Ela abriu os olhos e saiu do carro.

Eram Ana e Pedro, Pedro e Ana novamente, dançando como num sábado a tarde. Mas se você olhasse veria somente Ana e a chuva.