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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pedro e Ana. Ana e Pedro.


A chuva caia lentamente, como se não quisesse molhar a terra, nem seus pecadores.

Pecadores. Pecados. Pedro. Raiva.

Era essa a associação que Ana fazia enquanto a chuva caia, ela queria se molhar, transformar suas lágrimas em chuva e molhar os pecados, molhar Pedro. Mas suas mãos estavam apertando o voltante, suas unhas vermelhas apertavam a própria carne e Ana sentia raiva, sentia Pedro.

Odiava a chuva, que Pedro tanto amava, que molhava a terra dos pecadores, mas não a  molhava. Maldita chuva. Maldita raiva. Maldito Pedro.
Ele fora. Ela dissera "não vá Pedro!", e ele fora. Maldito Pecado. Chuva. Pedro. Ana. Pedro e Ana. Ana e Pedro.

Ela não sabia onde Pedro estava. Ele sabia onde Ana estava. Injusto. Pecado. Maldição.

O carro estava molhado pela chuva carregada de pecados, num cruzamento daquela imensa cidade, naquela maldita esquina. A esquina da morte. A esquina da morte de Pedro.

Ana chorava, apertava o volante e esperava um sinal. Queria tomar banho de chuva. Banho de Pedro. Talvez Pedro fosse a chuva, aquelas gotas. Talvez isso fosse um sinal. Ana fechou os olhos e viu Pedro a olhando com cara de domingo de manhã. Com olhos de domingo de manhã. Olhos sonolentos e apaixonados. Olhos Pedro. Ela abriu os olhos e saiu do carro.

Eram Ana e Pedro, Pedro e Ana novamente, dançando como num sábado a tarde. Mas se você olhasse veria somente Ana e a chuva.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sunflowers on the wall

Um novo ano começou, 2011 com o ar carregado de surpresas e expectativa chegou para trazer mudanças. E eu fiquei sem inspiração, o que acontece sempre que estou sob pressão, ou com medo do que está por vir.
Datas “importantes” se passaram e eu quase não as notei, sinais que antes me fariam sonhar acordada, interpretei como tristes coincidências. E o futuro, tive medo de pensar nisso.
                                      
Apenas nada de interessante aconteceu para ser retratado ficcionalmente, nem tive tempo para fantasiar histórias. Esse mês eu vivi pra mim, fui egoísta sim, mas com isso tive tempo de pensar e decidir o que queria, decidir meu futuro e minhas prioridades. Posso dizer que esse pedaço do verão me tornou mais mulher. Tenho meu ponto de vista e meus objetivos, talvez não saiba como alcançá-los e provavelmente não descubra pelo caminho, mas sei que chegarei lá. Tenho certeza disso.

Inspiração? Essa chegou. Um pequeno detalhe em um livro, a personificação do amor vivido entre as personagens principais. Girassóis na parede. Um para cada momento que passaram juntos. Talvez uma informação inútil em meio a toda a história, mas com certeza o momento em que parei e percebi o amor. Aquele amor puro, sem idealizações, o amor proibido, porém inocente. O amor retratado pelos mais românticos, onde o mais importante é o menor detalhe, o amor que a pessoa que mais tenta não sentir, sente.

Esse amor é unilateral, impossível de se compartilhar, mas fácil de esconder quando a pessoa toma o cuidado de mentir, culpar o outro e demonstrar que ama menos o amor que só ela sente.

Tenho pena de saber que ele planta girassóis sozinho, em pequenos vasos, já que não estou lá para ajudá-lo a colocar as pequenas flores na parede. Estou ocupada vivendo, enquanto ele diz viver, mas apenas rega os vasos e olha pela janela do quarto secreto, onde esconde esse amor que diz não ter.

Desculpe, mas preciso de foco nesse novo ano e não posso visitar seu quarto, nem cuidar de umas flores em minha casa. Tenho minha própria parede com flores, com o amor narcisista que tenho cultivado nesses últimos três meses. E isso me ocupa todo o tempo.